sábado, 21 de janeiro de 2012

Quando conheci minha tia!

Sempre gostei de viajar a Corumbá, cidadezinha calma onde o tempo pára e o pensamento continua. Mas, não hei de esquecer a viagem em que conheci minha tia. Claro que já a conhecia antes: a tia-amada, tia única, tia que parecia mais comigo do que minha mãe! Porém, conhecer mesmo não. Tia igual às outras ela não era mesmo, mas de jeito nenhum. E isso só soube lendo vários textos que ela escreveu.
Descobri que ela à medida que vivia a vida sob a sombra do cotidiano, mantinha o pensamento ativo, o que fazia com que tivesse vontade de se perguntar quase sempre: O que somos afinal? E simplesmente com o uso da palavra fazia de um papel em branco uma erupção de leveza e cor, se renova(ano) sempre, se revelando sempre ...
Revelando? Revelando o que? As facetas do bicho-homem, As singularidades da vida, As metamorfoses da sociedade, As fases do coração humano e uma vontade de expressar toda a singularidade e até desequilíbrios de uma eterna menina-moça sempre entre a razão e emoção, vida e erupção que a fazem se fortalecer.
Entre esses devaneios que somente o escrever é capaz de mostrar uma sensibilidade imensa que poetiza desde um pingo d’água até uma Lua crescente, uma chuva cristalina em plena primavera. A tarde agora é dela... E não mais uma tarde de janeiro como muitas que se vão com um assopro de um dia.
Minha tia tem também as sinuosidades da mulher, assim como uma família normal, mas ainda isso não a torna igual às outras titias por aí. Pois, só essa tem, e de verdade, uma forte referência de vida, o pai (meu avô), que nem o tempo lhe tirou a nobreza. E a mãe bordadeira (minha avó) festejando sempre e todo o dia. Tem também um ex-menino, agora já moço feito, que traz saudades da criança, da infância sempre tão bonita. 
Pois esta é minha tia! Descoberta e cheia de encantos, com sua cidade das almas pequenas, das almas que choram, e que exala cor e alegria, tal qual Dália e sua história de vida, seu corpo amante e amado quando cai no entorpecimento da vida, busca o sono e, então sonha com a cor e o movimento do palhaço ou com brinquedos de papel a voar!
E eu que sou sobrinha, e não uma Luísa desconhecida ou simples estrangeira, digo e repito para quem quer ouvir que tia – agora sim – única como essa, não tem em outro lugar!
Não hei de esquecer da viagem em que conheci minha tia...

* Texto de Autoria de Alice Maria de Figueiredo Souza (minha sobrinha - 16 anos).
* Foto de família.