Sempre gostei de viajar a Corumbá, cidadezinha calma onde o
tempo pára e o
pensamento continua. Mas, não hei de esquecer a viagem em que conheci minha tia. Claro que já a conhecia antes: a tia-amada, tia única, tia que parecia mais comigo do que minha mãe! Porém, conhecer mesmo não. Tia igual às outras ela não era mesmo, mas de jeito nenhum. E isso só soube lendo vários textos que ela escreveu.
Descobri que ela à medida que vivia
a vida sob a sombra do cotidiano, mantinha o
pensamento ativo, o que fazia com que tivesse vontade de se perguntar
quase sempre:
O que somos afinal? E
simplesmente com o uso da
palavra fazia de um
papel em branco uma
erupção de
leveza e cor, se
renova(ano) sempre, se
revelando sempre ...
Revelando? Revelando o que?
As facetas do bicho-homem, As singularidades da vida,
As metamorfoses da
sociedade,
As fases do coração humano e uma vontade de
expressar toda a
singularidade e até
desequilíbrios de uma eterna
menina-moça sempre entre a
razão e emoção,
vida e erupção que a fazem se fortalecer.
Entre esses
devaneios que somente o
escrever é capaz de mostrar uma sensibilidade imensa que poetiza desde um
pingo d’água até uma
Lua crescente, uma
chuva cristalina em plena
primavera.
A tarde agora é dela... E não mais
uma tarde de janeiro como muitas que se vão com um
assopro de um dia.
Minha tia tem também as
sinuosidades da mulher, assim como uma família normal, mas ainda isso não a torna igual às outras titias por aí. Pois, só essa tem, e de verdade, uma
forte referência de vida, o pai (meu avô), que nem o
tempo lhe tirou a nobreza. E a
mãe bordadeira (minha avó)
festejando sempre e todo o dia. Tem também um ex-
menino, agora já moço feito, que traz
saudades da criança, da
infância sempre tão bonita.
Pois esta é minha tia! Descoberta e cheia de encantos, com sua cidade das
almas pequenas, das
almas que choram, e que exala
cor e alegria, tal qual
Dália e sua história de vida, seu
corpo amante e amado quando cai no
entorpecimento da vida, busca o
sono e, então sonha com a
cor e o movimento do palhaço ou com
brinquedos de papel a voar!
E eu que sou sobrinha, e não uma
Luísa desconhecida ou simples
estrangeira, digo e repito para quem quer ouvir que tia – agora sim – única como essa, não tem em outro lugar!
Não hei de esquecer da viagem em que conheci minha tia...
*
Texto de Autoria de Alice Maria de Figueiredo Souza (minha sobrinha - 16 anos).
* Foto de família.