domingo, 17 de julho de 2011

Dália e sua história de vida.




Era uma vez um quintal grande e bastante caseiro. Típico dos quintais interioranos. Pertencia a uma senhora muito cuidadosa, afetuosa e organizada.
Neste quintal havia rosas e diferentes espécies de plantas: grandes, pequenas, tímidas, frondosas com flores matizadas, viçosas folhagens e até frutos. Também havia muitas borboletas, grilos, joaninhas e pássaros, entre eles, os beija-flores, assanhaços, rolinhas, pardais, João- de barro, sabiás e outros que se aventuravam em conhecer o quintal.
Além de ser bastante interiorano, existia no quintal muita harmonia, alegria, cor e calmaria. 
Nunca foi tratado por profissionais de jardinagem ou paisagismo, mas sempre bem cuidado com adubos compostos de carinho, capricho, afeto, delicadeza e amor, por parte da senhora, dona do quintal.
E entre as muitas variedades de plantas que havia neste quintal, uma não muito atrativa, tímida e insegura nasceu. E foi um nascimento cercado de fragilidades, incertezas e sofrimentos. A plantinha nasceu doente e assim permaneceu nos primeiros anos de vida. Por causa disso, todas as outras plantas adultas exclamavam: “Coitadinha, como é frágil!” “Como é miúda!” “Como é chorona!” “Como é triste!” 
A plantinha por ser doentia vivia choramingando e aborrecida, segundo as plantas idosas. Mesmo assim, a senhora dona do quintal, não desistia da plantinha. Esta a enchia de atenção, carinhos, cuidados e segurança. Mostrava sempre que ela era tão importante quanto às outras plantas.
Porém, os anos foram passando e a plantinha crescendo, desenvolvendo-se, mas sem os atrativos das outras plantinhas de sua idade. Mesmo assim, era muito esperta, ativa, travessa e inventiva. 
No canteiro onde estava plantada, a nossa protagonista arquitetava brincadeiras mirabolantes deixando as plantas adultas enlouquecidas. tinha o dom de fantasiar muito, a plantinha desta história.
Mas, o tempo passou, e ela não permaneceu sempre criança. Cresceu e transformou-se numa adolescente aparentemente desengonçada, comprida e magrela. Só aparentemente, porque aos poucos algumas características de sua espécie foram despontando. Até que ficou moça e depois, uma mulher. E todos perceberam que a plantinha se chamava Dália. 
Da mirrada, doente e sem graça, os habitantes dos canteiros e demais partes do quintal, passaram a conhecer uma planta atraente, feminina, delicada. E, como toda planta fêmea produziu além de flores coloridas, também um lindo e forte fruto.
Porém, essas características não foram as mais importantes. A nossa plantinha era determinada e impetuosa e, claro, começou a incomodar outras plantas. Na verdade, o que importunava era a sua inquietude, a sua fortaleza e atitudes corajosas diante das adversidades que surgiam em sua vida. Além, de se manter firme na luta constante e desigual que enfrentava pela sobrevivência, no canteiro onde vivia e também no quintal. 
E, à medida que o tempo passava tudo ficava mais difícil e desafiante. Ela lutava por mais espaços e solos mais férteis. Era convicta que merecia mais. E esta certeza ficava mais forte em sua consciência sempre que se movia acompanhando os raios do rei Sol. 
E neste movimento avistava outros ângulos no canteiro e no quintal, como também, novas possibilidades. E insistente e curiosa que era lutava até alcançá-las. E não via nenhum problema nisso. Para ela era natural ser assim. Era normal. Só estranhava o fato, de algumas plantas não apresentarem a mesma necessidade e movimentos diferentes. Só se ocupavam em desdenhar suas atitudes e seu crescimento, e alguns erros que cometia nesse processo de conhecer o mundo. 
Claro, tudo na vida é uma aprendizagem e implica em acertos e erros, aliás, muito mais erros e frustrações. E assim, a nossa plantinha insistia em sua caminhada pela vida.
Com esse espírito curioso e destemido teve a oportunidade de conhecer e conviver em outros canteiros, outros quintais e também com outras espécies de plantas. Conheceu muitas, As mais exóticas e exuberantes, até as mais comuns e simples. 
No entanto,, o que chamou mais atenção da nossa plantinha foi conhecer os diferentes estilos de plantas: plantas bondosas, sábias, generosas, brincalhonas, vividas, cultas e viajadas. Mas, também as cruéis, invejosas, mesquinhas, frustradas, limitadas, oportunistas e traiçoeiras.
Nesse universo de plantas, a nossa plantinha lutava por seu espaço, convicções e objetivos. Nessa luta, sofria muito, pois a sua curiosidade, coragem e inquietude despertavam a ira e inveja da demais plantas, principalmente, daquelas que não conseguiam se arriscar em conhecer outros canteiros e ousar ir até outros quintais. Era alvo de constantes comentários, olhares, maldades e cobiças. 
Como se incomodavam as outras plantas! Como eram infelizes e insatisfeitas!
E tudo isso, no começo perturbava, entristecia e adoecia a nossa plantinha. Tanto que quase murchou. Por pouco, não findou diante de “olhos” venenosos que a vigiavam a cada passo e conquista.
Todavia, como desafios e adversidades compuseram a história de vida de nossa plantinha, ela se reerguia sempre e cada vez mais amadurecida e lúcida. E foi o amadurecimento que a fez compreender que assim é a vida e as plantas. Existem estilos, espécies, tamanhos e com folhagens diferentes. Porém, cabe a cada planta reconhecer suas limitações e potencial. Como cabe também, a cada uma saber o que quer conquistar para sua vida. 
Ter a clareza disso é adquirir identidade e confiança em si mesmo. É entender também porque algumas plantas não são capazes de produzir os próprios movimentos. Ficam só prestando atenção no movimento alheio. E aí é lógico, não conseguem ampliar o próprio canteiro e explorar o seu quintal. Transformam-se em plantas parasitas, oportunistas, opacas e pálidas. Os passarinhos não se aproximam. Os beija-flores não encontram néctar. As joaninhas não se sentem atraídas em passear pelos seus caules. Os grilos não as procuram para cantar entre as suas folhas. É tudo muito insípido, estéril e sem graça.
A moral desta pequena história de Dália é que as plantas não precisam nascer em quintais ou jardins com sofisticadas técnicas e adubos. 
Só necessitam ser bem cuidadas e adubadas na quantidade certa. Precisam regadas em momentos adequados e tratadas com afeto e respeito. Isso as deixará preparadas para todo tipo de solo, canteiros, quintais e adversidades que possam acontecer nas suas vidas.
É importante que cresçam cercadas de segurança e confiança, para que consigam perceber que podem tornar os seus canteiros, jardins ou quintais bonitos, ricos e com muitas possibilidades.
Assim, conseguirão entender os olhares de tristeza, amargura e inveja de algumas plantas, que por não terem recebido o afeto e cuidado necessários, se tornam frágeis, amargas e opacas. Por isso, e passam a vida a vigiar a cor e vitalidade das plantas corajosas, ousadas e bem cuidadas.




*Autoria de Maria Auxiliadora Negreiros de Figueiredo Nery.